Sei mais do que digo, penso mais do que falo e percebo mais do que imaginam



A primeira vez que à vi, fiquei sem fôlego. O amor não se tem na hora que se quer, ele vem no olhar […]

Quando nos beijamos eram os olhos mais transparentes e limpos que eu já tinha visto em toda minha vida. Tenho sido acordado frequentemente na madrugada com a nítida expressão de seu rosto em nosso primeiro beijo no carro. Tem gente que nos tira o sono, tem gente que nos devolve os sonhos.

Nossa paixão nasceu de uma atração instantânea e avassaladora. Nos queríamos com a urgência daqueles que descobrem na mesma pessoa, o colo, a afinidade e o prazer.

Mas nem sempre estamos em um bom momento para viver o que uma relação de verdade exige.

Às vezes, o amor de nossas vidas não é o amor mais certo, mais saudável, mais calmo. E, se não houver calmaria, ninguém sossega, pois sentimento algum se acomoda ao que é incômodo e faz doer. Sempre soube que haveria bagunça a arrumar e, embora um amor de verdade traga coisas maravilhosas, também traz bagunça e talvez naquele momento eu não estivesse disposto a ter mais essa bagunça na minha vida bagunçada.

A vida é um eterno contraste. Não importa se o momento é mais ou menos oportuno.

As oportunidades simplesmente aparecem. Percebo aos poucos que deveria ter feito da hora errada o momento certo. Falar é fácil. Mas isso não é nada fácil, e internamente ecoa: se não quiser se arrepender de ter deixado a oportunidade de amar alguém de verdade passar, é necessário fazer com que a relação dê certo.

A culpa não é do momento, por mais que ele seja difícil, a culpa é da falta de esforço, da falta de querer, da falta de fazer, da falta de agarrar essa oportunidade como se fosse única.

Sempre haverá alguma coisa que precisa ser arrumada, além do medo de entregar-se a vulnerabilidade. A exceção é a pessoa certa, que apareceu em uma rara oportunidade na minha vida e, como rara, ela deveria ter sido valorizada ao máximo naquele momento.

Olho no espelho, semanas se passaram. Percebo inquietantemente, cada vez mais, a brevidade da vida. Percebo que a vida não comporta reprises. Percebo que o amor é como um poço no deserto. Não sabemos onde está, mas, quando encontrado, deve ser abraçado com imensa alegria. A beleza da vida está nesses encontros que ela nos proporciona. Então, o momento pode não ser o ideal, mas, se existe amor, há beleza até mesmo no deserto.

O fracasso, por meio da solidão, tem me levado ao autoconhecimento e ao mesmo tempo a uma felicidade mais profunda e verdadeira. Me sinto mais próximo do que sou essencialmente e isso me possibilita saber em que lugar a minha alma precisa se encontrar. Sinto-me cada vez mais disposto a superar todos os problemas, só para ser digno de um amor que torne o coração um lugar onde eu possa envelhecer feliz.

Os fracassos levam a ultrapassagens e as ultrapassagens a descobertas. E a partir da compreensão das nossas contradições, passamos a melhor entender as contradições do universo, as quais invariavelmente estamos submetidos. É como se passássemos a entender a não-linearidade do tempo como algo que nos é próprio e, portanto, cognoscível. Porque a nossa vida é como um quebra-cabeça temporal, que vai se formando aos poucos, de tal maneira que muitas das peças que em determinado momento parecem inúteis, em outros são as chaves para elucidar grandes problemas.

Precisa-se conhecer a infinidade do universo, para que se conheça a infinidade de alegrias presentes cotidianamente entre os fracassos e os sucessos. É preciso se perder para voltar a se encontrar.

Ademais, tenho olhado para o passado e enxergado onde acertei também. Por muito tive aquela sensação de que, se o mundo acabasse ali, estaria tudo bem.

É, o amor é para os que aguentam a sobrecarga psíquica. E nessa minha maluquice eu ainda à amo!



Um comentário:

Anônimo disse...

Seus textos são perfeitos. Escreve um livro logo!