Vamos lá, quando estamos sozinhos, temos aquela fração de
tempo para refletir sobre o que fazemos e como fazemos. Quando estamos
acompanhados, nos limitamos a seguir as crenças dos outros, para não romper a
simples dinâmica do protocolo.
A sociedade moderna nos obriga a sermos enormemente
dependente do que é externo. E isso é lastimável, pois os espaços de solidão
representam a única possibilidade de se fazer contato consigo, buscar respostas
e recuperar o equilíbrio. Significa estimular o pensamento autoral, próprio e
original.
Quando estamos sozinhos nos sentimos totalmente
livres. Criamos um campo magnético impermeável com o eu interior e isso é
prazeroso... é reparador. É um movimento de autoconhecimento necessário.
Eu defendo a necessidade de recuperar nossa capacidade
egocêntrica contemplativa para compensar nossa hiperatividade
destrutiva.
As pessoas tem medo de solidão e tornam-se
automaticamente dependentes dos outros, mas somente tolerando o tédio e o
vácuo seremos capazes de desenvolver algo novo e de nos desintoxicarmos de um
mundo cheio de estímulos e de sobrecarga informativa automática e
desnecessária. A solidão nos dá medo porque com ela caem todas as
máscaras. Vivemos sempre mantendo as aparências, em busca de reconhecimento,
mas raramente tiramos tempo para olhar para dentro e curtir o que está em nós.
É certo que, por inércia, quanto menos só se está, mais
difícil é ficá-lo.
Ninguém está mais ativo quando se está sozinho e nunca se
está menos sozinho do que quando está consigo mesmo.
Um naco de solidão escutando uma música, ou caminhando,
ou assistindo uma peça de teatro, ou pesquisando um livro, ou gritando em
um show, ou simplesmente olhando o tempo passar, representa a oportunidade de
revisar nosso cérebro, de projetar o futuro e principalmente avaliar a
qualidade dos vínculos que construímos. É um espaço para executar uma auditoria
existencial e perguntar o que é essencial para nós, além das exigências do
ambiente social.
E a minha solidão não tem nada a ver com a presença ou
ausência dos que me cercam. É o gosto pelo espaço em branco que me permite
ouvir sem interferências o que sinto e necessito.
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